3 de março de 2015

Vírus

Preciso o quanto antes me desinfectar desse vírus, dessa moléstia que me prende e me limita. Preciso desfazer logo todas essas malditas reações antes que elas se desfaçam por si só.

10 de janeiro de 2015

Gravidade

Ele olhou para cima, em vão, numa tentativa desesperada de evitar que a gravidade fizesse seu trabalho.

9 de agosto de 2013

A folha branca e o marasmo

Data de quase dois anos que vim
Até aqui escrever qualquer porcaria.
Confesso: pensei que jamais faria,
Jamais voltaria a escrever, por mim.

Segundo, minuto, hora, dia, mês, ano...
Fim de ciclos, começos e recomeços...
O mundo piora enquanto eu apodreço
Também, afinal, sou'u reles ser humano.

Assim como a folha branca, vazio,
Nutrindo com a vontade um entrevero,
Co'a profunda estase eu me desespero.

Olho-me, imóvel, enquanto atrofio,
Arrependo-me, em vão, desapareço.
A vida vagabunda tem seu preço.

15 de novembro de 2011

Ah! Como eu queria!

Queria conseguir novamente escrever
Sem me preocupar com forma e clima.
Queria abandonar a doença da rima;
Romper bruscamente
Com a norma.

Queria que toda a minha pequena poesia
Pudesse ser escrita novamente
Sem preocupações e normas dementes
Tornando-a completamente vazia.

Depois de lapidada eu poderia
Finalmente para ti escrever,
Dizer tudo que deveria dizer,
Acabar finalmente com a agonia!

Ah! Como eu queria!
Ah! Como eu queria...

21 de julho de 2011

Mudar o mundo

Odeio, odeio muito falar sobre o mundo real...

Estava dando uma olhada numas coisas quando percebi que desde sempre gostaria de mudar muitas coisas no mundo. Não sei exatamente qual a razão pelo comum interesse afora o fato de ele ser comum.

Certo é que todas as mudanças preteridas estavam intimamente relacionadas ao pequeno universo que me rodeia: ponto para Aristóteles.

As mudanças variam de reordenar uma prateleira a querer salvar o mundo das cáries. Contudo, à cada segundo que o tempo avança, eu percebo que consigo apenas reordenar a prateleira. O poder que eu achava que eu tinha não passa de um átomo não-radioativo diante de uma galáxia. O mundo que eu gostaria de salvar está cada vez pior e nada posso fazer quanto a isso.

Pior: não consigo lidar com meu próprio universo. É bem plausível que eu não obtenha resultado em nenhuma outra esfera...

Escasseiam-se cada vez mais as razões para continuar seguir o caminho infame. Cada vez mais sinto-me preso à minha própria insignificância. Vale mais a pena apenas sobreviver em desespero ou descansar em paz?

1 de dezembro de 2010

A construção do adulto

Começa vindo direto da mamãe,
Acabou de sair, toma a primeira pancada.
Chora, é abraçado, é observado
Às vezes ganha carinho, às vezes não.
Cresce um pouco, começa a andar, falar...
Faz a primeira 'arte', toma outra pancada.
Cresce mais um pouco, hora de escola.
Não vai muito bem, o ensino é ruim....
É nada! Toma mais uma pancada.
Brincar não é permitido não!
Vai ser alguém na vida brincando?!
Cresce de novo; "que menina bonita!"
Não vai namorar ninguém aqui!
Duas semanas de suspensão.
A menina mudou de escola.
Toma mais pancada, mantenha o ritmo!
Vá trabalhar, filho meu vagabundo?
Aqui não! Ou trabalha ou é rua!
Poxa! Mas eu queria achar algo legal.
Não existe algo legal, você tem, tem e ponto.
Onde já se viu querer procurar algo legal?
E vai fazer faculdade, ser médico, advogado...
Engenheiro, vai ser é alguém na vida!
Professor? Nunca! Não dá dinheiro!
Toma mais uma pancada para desistir disso.
Quero voltar para mamãe! Preciso dela.
O mundo é triste, não quero o mundo!
Corre, dirige-se à sua progenitora
Rápido como um raio, mas a chuva é de lágrimas.
Toma mais uma pancada, ninguém te quer aqui
Filho vagabundo! Desapareça.
Molda-se um novo ser, desfigurado.
Depois de tanta pancada, surge o adulto.

26 de setembro de 2010

Dodecamor

Andava atônito por um mar esquecido
Em treva pura, no obituário pior!
Malogros e agruras lembrava de cor,
Triste exilado na dimensão do vencido!

Quisera ele que fosse antes dissolvido,
Reduzido a muitas partículas atômicas;
Antes isso a sobreviver nas antagônicas
Terras dos vencedores e dos oprimidos.

Por mais que tente furiosamente escapar,
Condenado se encontra ao eterno pesadelo
De sempre encontrá-lo, porém jamais obtê-lo.

Por que, miserável alma, pôs-se a amar
Se desde o princípio já havia percebido
Que o amor é somente um sentimento proibido?